sábado, 5 de novembro de 2011

Confusão e criação.

A confusão, o desperdício, a desordem, são como a sombra da criatividade. O que aparece de novo neste século, ou melhor, nestes últimos 50 anos é a extraordinária potencialidade criativa à qual muitos seres são convidados. Claro está, que bastantes pessoas confundem criatividade, com expressão das suas pulsões ou ideias, é um pouco como confundir “o barulho de uma cadeira que cai pelas escadas abaixo” (1), com um som harmonioso duma flauta, dum piano, dum saxofone bem dominados. A expressão das suas pulsões como arte, não vai mais além da fascinação de um campo cheio de lixo e de destroços. É um desses sofismos que por aí circulam, que aponta um caixote de lixeira como uma potencialidade artística. O discernimento entre arte e expressões, não é inteligível se não existe escuta. Acontece que o valor mercantil, passa desde há mais de 40 anos por um critério de valor estético. Tal como no campo da especulação financeira, pode-se manipular virtualidades como valores lucrativos.
Nesta idade de dominante financeira, algo que coloca a transcendência como primeiro passo da criatividade passa por uma aberração, um anacronismo, desde então as expressões e as ideias podem servir facilmente de valores especulativos, visto ser o materialismo consumista, que domina a maioria das relações entre indivíduos.  As ditas “expressões” procedem habitualmente segundo manifestos ou/e autismos discursivos - tagarelice. Quer dizer: na expressão, nas ideias não existe sincronia com o Mistério da Vida, pois entram num circuito fechado supostamente intimista, condicionados por doutrinas niilistas, psicanalises, por toda essa intoxicação mental que se denomina desconstrução, pois que e tentam e conseguem impor-se como totalidade, condição básica de sobrevivência em coordenação com a finalidade especulativa financeira. Por outros termos: o niilismo desconstrutivo é o manifesto da economia parasitária dum capitalismo mundialista mórbido.
Cultivar, angústias, fobias e identificações ávidas, estatutos, dos quais o de artista parece ser relevante, sobretudo por ser um saco aonde se pode esconder tudo e mais ainda. Um conto das 1001 noites conta o caso de dois mercadores que se disputam um saco, cada um enumera o que lá tem dentro; há caroços de damascos e azeitonas, frascos de perfume, camelos e caravanas, odaliscas muito sensuais, escravos negros e pardais e muito mais. Claro que os dois fazem batota. Assim é a expressão de si próprio, só que esta das 1001 noites é engraçada e marota, enquanto a batota inevitável das expressões e ideias, é triste, mas tão triste…
Por outro lado a criatividade, não reivindica e corre o seu fluxo, no acontece mais cedo ou mais tarde, é o oposto da loucura, do pensamento fechado das ideias e expressões. No entanto há que ter em conta que a fronteira entre as duas formas de actividade é muito difícil de definir, portanto como foi escrito mais acima, é a possibilidade da escuta e de diálogo (mesmo em silêncio) que permite de esclarecer e ouvir a música. No desenho qual é a música que lá se entende quando para ele miramos?

(1)   Alvaro Magalhães, a propósito de um concerto de música contemporânea. 

Tahara 1974. Galeria Entre.Luiz da Rocha. Dobragens. Paris



sexta-feira, 4 de novembro de 2011


Já há bastante tempo que foram expostas dobragens da minha colecção. A qual colecção continua a aumentar, embora durante as minhas passeatas pelas rua de Paris, desde há mais de quatro anos encontro cada vez menos dobragens, talvez porque os serviços de limpeza da cidade tornaram-se demasiado eficazes para não distinguirem uma poética dobragem (as dobragens são sempre poéticas), dum papel sujo, un saco amarrotado, uma carta rasgada, uma embalagem de comida para gado, um bilhete de metro, uma lapiseira, ou uma lata esmagada. Ou então, os Anjos arranjaram maneira de não perderem penas, isto na hipotese que aqui pela cidade os anjos ainda por cá andariam. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Uma paixão. 
Ao fim e ao cabo, uma paixão é tão simples como ter a noção de viver na Via Láctea, e, apreciar isso para além de tudo o mais.. Não é todos os dias que tal acontece, mas surge entre sonhos, encontros, deslumbramentos simples e o longo periodo que passei na Escola da Gandaia (Tradução de École buissonnière). Penso que agora posso começar a establecer uma certa ordem nas notas, e, elementos recolhidos durante a minha conturbada existência na dita Via Láctea. Ontem esbocei a possibilidade do interesse inerente às coisas sem importância, como o são por exemplo, as dobragens espontâneas, as quais destingo dos sábios e escolares Origami. 
Uma dobragem é pois uma Pena de Anjo, ou também pode ser o que aqui neste cantinho da Via Láctea ficou de uma estrela cadente, aquela que recolheu certos desejos, que alguém formulou em silêncio. É um indice de um conto, de uma singularidade.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Hoje decidi de passar a escrever em português, isso talvez porque o dia outonal incita a tal. Continuo do mesmo modo a escrever sobre uma dimensão subtil, que é a das "Penas de Anjos". Penas de asas de Anjos, de sonhos, de visões, de gestos espontâneos e de certos objectos que dão corpo e dimensão a tais gestos. Mensagens para quem quiser ter a audácia de seguir essas coisas que parecem não ter nenhuma importância. 
Previligio as dobragens encontradas em lugares públicos ao acaso das minhas passeatas.
(Continua)....