A confusão, o
desperdício, a desordem, são como a sombra da criatividade. O que aparece de
novo neste século, ou melhor, nestes últimos 50 anos é a extraordinária
potencialidade criativa à qual muitos seres são convidados. Claro está, que bastantes
pessoas confundem criatividade, com expressão das suas pulsões ou ideias, é um
pouco como confundir “o barulho de uma cadeira que cai pelas escadas abaixo”
(1), com um som harmonioso duma flauta, dum piano, dum saxofone bem dominados.
A expressão das suas pulsões como arte, não vai mais além da fascinação de um campo
cheio de lixo e de destroços. É um desses sofismos que por aí circulam,
que aponta um caixote de lixeira como uma potencialidade artística. O
discernimento entre arte e expressões, não é inteligível se não existe escuta. Acontece
que o valor mercantil, passa desde há mais de 40 anos por um critério de valor
estético. Tal como no campo da especulação financeira, pode-se manipular virtualidades
como valores lucrativos.
Nesta idade de
dominante financeira, algo que coloca a transcendência como primeiro passo da
criatividade passa por uma aberração, um anacronismo, desde então as expressões
e as ideias podem servir facilmente de valores especulativos, visto ser o
materialismo consumista, que domina a maioria das relações entre indivíduos. As ditas “expressões” procedem habitualmente
segundo manifestos ou/e autismos discursivos - tagarelice. Quer dizer: na
expressão, nas ideias não existe sincronia com o Mistério da Vida, pois entram
num circuito fechado supostamente intimista, condicionados por doutrinas
niilistas, psicanalises, por toda essa intoxicação mental que se denomina desconstrução,
pois que e tentam e conseguem impor-se como totalidade, condição básica de
sobrevivência em coordenação com a finalidade especulativa financeira. Por
outros termos: o niilismo desconstrutivo é o manifesto da economia parasitária
dum capitalismo mundialista mórbido.
Cultivar, angústias,
fobias e identificações ávidas, estatutos, dos quais o de artista parece ser
relevante, sobretudo por ser um saco aonde se pode esconder tudo e mais ainda. Um
conto das 1001 noites conta o caso de dois mercadores que se disputam um saco,
cada um enumera o que lá tem dentro; há caroços de damascos e azeitonas,
frascos de perfume, camelos e caravanas, odaliscas muito sensuais, escravos
negros e pardais e muito mais. Claro que os dois fazem batota. Assim é a
expressão de si próprio, só que esta das 1001 noites é engraçada e marota,
enquanto a batota inevitável das expressões e ideias, é triste, mas tão triste…
Por outro lado a
criatividade, não reivindica e corre o seu fluxo, no acontece mais cedo ou mais
tarde, é o oposto da loucura, do pensamento fechado das ideias e expressões. No
entanto há que ter em conta que a fronteira entre as duas formas de actividade
é muito difícil de definir, portanto como foi escrito mais acima, é a possibilidade
da escuta e de diálogo (mesmo em silêncio) que permite de esclarecer e ouvir a
música. No desenho qual é a música que lá se entende quando para ele miramos?
(1)
Alvaro Magalhães, a propósito de um concerto de música contemporânea.
Tahara 1974. Galeria Entre.Luiz da Rocha. Dobragens. Paris |